domingo, 3 de janeiro de 2010
Documentário filmado com celular põe espectador dentro de Teerã
Quando Sepideh Farsi enfrentou restrições do governo iraniano à sua proposta de fazer um filme em Teerã durante a campanha eleitoral deste ano, ela recorreu ao celular. Usando apenas a câmera de um telefone Nokia N95, Sepideh percorreu as ruas da capital iraniana filmando conversas com taxistas, mulheres em salões de beleza, atores, mágicos e jovens em cafés. O resultado é um documentário fascinante sobre a vida na poluída e densamente povoada capital de um país que enfrenta sanções internacionais por suas ambições nucleares e que passa pela maior agitação popular desde a revolução islâmica de 1979. O filme não é totalmente isento de interferência da diretora, já que ela guiou as conversas e passou seis meses editando o material, mas "Tehran Bedoune Mojavez" (Teerã sem permissão) traz uma visão da vida na cidade em imagens apenas ligeiramente granulosas, que funcionam bem na tela grande. Celular garante discrição.No Festival Internacional de Cinema de Dubai, onde o filme foi exibido esta semana, Sepideh disse que a facilidade e discrição garantidas pelo celular deixaram as pessoas mais abertas. "Uma câmera sempre intimida", disse ela. "Há o microfone, o flash - sempre existe uma distância entre quem filma e quem é filmado. Mas com o celular isso é reduzido ao mínimo". O celular acabou revelando ser a tecnologia do momento. Com o governo reprimindo a ação da imprensa quando os partidários de candidatos oposicionistas foram às ruas para protestar contra a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad, os iranianos usaram seus celulares para transmitir imagens a sites como Twitter e YouTube. Transformação social. Sepideh, que deixou o Irã em 1980 e hoje vive na França, ouviu histórias sobre o estado atual da sociedade iraniana que, diz ela, explicam muita coisa sobre os protestos. Mulheres em salões de beleza falam da moda da cirurgia plástica de nariz, tatuagens nas sobrancelhas e outros procedimentos feitos por iranianas mais jovens. Rapazes reclamaram do aumento das drogas, álcool e prostituição na sociedade, apesar do código moral rígido imposto pelo sistema de governo religioso. Cerca de dois terços dos 70 milhões de habitantes do Irã têm menos de 30 anos. Sepideh incluiu no filme a música de rappers populares como Hichkas, que falam da insatisfação pós-eleitoral. E encontrou mágicos de rua e atores de teatro que reclamaram que, com a cultura de DVDs e televisão por satélite, ninguém mais tem tempo para as tradições antigas. Um jovem, filmado no escuro para garantir seu anonimato, diz que as pessoas no poder preferem essa situação e que a sociedade iraniana se tornou altamente materialista.
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