sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Indicado ao Oscar, 'O segredo dos seus olhos' revela lado sombrio de Campanella


















Conhecido por sua comédia de sucesso "O filho da noiva" (2001), o diretor argentino Juan José Campanella surpreende pela profundidade e combinação de gêneros de seu novo longa, "O segredo dos seus olhos", indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e que estreia em São Paulo, Rio, Porto Alegre e Brasília nesta sexta-feira (26). "O segredo dos seus olhos" é protagonizado por Ricardo Darín, o ator-fetiche de Campanella, que aqui está num registro diferente daquele que o transformou numa presença constante em comédias argentinas. Como pede seu personagem, o oficial de justiça Espósito, ele tem uma interpretação mais contida e, por isso, repleta de nuances. A maquiagem contribui nas idas e vindas no tempo da narrativa, mas é o trabalho do elenco - que também inclui Soledad Villamil ("Não é você, sou eu") e Guillermo Francella ("Rude e brega") - que dá a credibilidade à combinação de estilos e à transição entre passado e presente. roteirizado por Campanella e pelo escritor Eduardo Sacheri (autor do romance no qual foi inspirado), o filme toca em feridas da história argentina sem nunca fazer destas o seu tema principal, ou sua razão de ser. Um dos tempos da narrativa é em meados dos anos 70, quando uma moça é encontrada brutalmente assassinada. Apesar de motivações políticas serem mencionadas - "seria ela uma subversiva?" - elas não são aprofundadas, pois o foco do diretor é outro. O poder do amor, da obsessão e a sede de vingança são o que move os personagens. Espósito trabalha num tribunal de justiça criminal, chefiado por uma mulher, Irene (Soledad), por quem ele se apaixona platonicamente. O romance deles sobrevive três décadas depois quando, já aposentado, ele ainda visita a amiga - eterno amor - que trabalha no mesmo tribunal, onde passam horas conversando. No presente, ele escreve um livro de ficção inspirado naquele crime, possivelmente até hoje sem solução - ou pelo menos, com uma resolução frustrada. O passado jamais descansa. Por meio de flashbacks, que entrecortam toda a narrativa, descobre-se que Espósito foi o detetive que solucionou o caso. O assassino é descoberto, mas logo ganha liberdade, pois se oferece para ser informante da polícia e fazer o trabalho sujo que a ditadura militar necessita. "Subversivos são mais perigosos do que estupradores e assassinos", comenta uma pessoa ligada à Justiça. Isso incomoda tanto Espósito quanto o marido da vítima (Pablo Rago, de "Apaixonados"), que todos os dias passava por uma estação de ônibus, na esperança de que o assassino, que ele sabia quem era, passasse por ali. A montagem, também assinada pelo diretor, dialoga com o passado, com a urgência da resolução do crime, e o presente, carregado da melancolia das oportunidades perdidas. Os personagens olham para trás e analisam as suas vidas e constatam que se transformaram naquilo que nunca planejaram ser. Esse é sem dúvida o filme mais sombrio e mais interessante do diretor que, ao combinar um clima noir com um drama dos romances frustrados, é capaz de prender a atenção por mais de duas horas. Em se tratando da direção, aliás, existem algumas sequências memoráveis. Especialmente uma tensa e longa perseguição num estádio de futebol abarrotado de torcedores numa noite de jogo.

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