sexta-feira, 5 de março de 2010

Drama familiar e guerra conduzem vidas em 'Entre irmãos'


















A base para o roteiro do filme "Entre irmãos", que estreia em circuito nacional, lembra uma parábola bíblica: dois irmãos disputam o amor da mesma mulher e a atenção do pai. No entanto, o diretor irlandês Jim Sheridan trabalha num enfoque mais intimista da história, sem buscar uma grandiosidade no conflito desse grupo de personagens. Tal como "O mensageiro", em cartaz no país, "Entre irmãos" tem como pano de fundo — ou ponto de partida para pequenos dramas — a intervenção dos Estados Unidos no Oriente Médio, dessa vez no Afeganistão. Mas, ao contrário de "O mensageiro", que envolve a sociedade como um todo, aqui o foco está na dissolução familiar. "Entre irmãos" é um remake em inglês do filme dinamarquês "Brothers" (2004), de Susanne Bier ("Depois do casamento"), mantendo praticamente intacta a linha narrativa, com pequenas adaptações para adequar-se à realidade norte-americana. Sheridan ("Meu pé esquerdo", "Terra de sonhos") sempre lidou com assuntos políticos a partir do prisma familiar, como o Exército Republicano Irlandês, o IRA ("Em nome do pai", 1993), e a imigração ilegal para os Estados Unidos ("Terra de sonhos"). Desta vez a trama não se aprofunda nos personagens ou suas motivações, deixando de lado nuances e acumulando ideias e esboços. Sam Cahill (o "Homem-aranha" Tobey Maguire) é o oposto de seu irmão, Tommy (Jake Gyllenhall, de "Zodíaco"). O primeiro é um fuzileiro naval responsável, pai de família e casado com Grace (Natalie Portman, de "Nova York, eu te amo"). Seu irmão é o clichê ambulante da ovelha negra, que acaba de sair da cadeia. As diferenças explodem, mais uma vez, durante o jantar de despedida de Sam, que volta para o Afeganistão, depois de passar uma curta temporada com a família. No Afeganistão, Sam enfrenta as atrocidades da guerra, é capturado e mantido refém pelo Talibã. Sua família, no entanto, não sabe desse detalhe, e ele é dado como morto. Em casa, Tommy conforta a cunhada viúva e cuida das sobrinhas pequenas, tal como um pai faria. Ele assume as responsabilidades do irmão e tenta ganhar o amor e a confiança do pai, também um ex-fuzileiro, interpretado por Sam Shepard ("O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford"). Não demora muito para Tommy assumir praticamente todas as funções do irmão e ganhar o coração de Grace. Libertado, Sam volta para casa mais neurótico e atormentado do que nunca e começa a desconfiar da proximidade entre o irmão e sua mulher. Além disso, o oficial precisa também enfrentar os demônios da guerra que o consomem. "Entre irmãos" é um filme que fica contido quando deveria explodir, no momento em que as emoções, dores e amores aprisionados tomam conta dos personagens e eles clamam por tudo aquilo que anseiam. No entanto, poucos personagens exploram sua problemática até o limite. Quando isso acontece, é de forma forçada. Ao mostrar atrocidades interferindo no melodrama doméstico, Sheridan levanta a discussão sobre a intervenção dos Estados Unidos em países como Afeganistão e Iraque. Mas o retrato que faz dos dois ambientes não traz nada de novo sobre a guerra ou sobre os pequenos dramas que acontecem nas cozinhas, salas e quartos, enquanto os soldados estão no campo de batalha.

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