terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Diretor estreante transforma passeio em parque da Disney em filme de terror

O filme de estreia de Randy Moore sobre um pai indo a loucura na Disney World é apenas uma obra cinematográfica? Ou será que o Mickey tem motivos para ficar muito, muito irritado? Muitos apostam na segunda opção, depois da estreia do longa-metragem no Festival de Sundance, neste fim de semana. Moore, sem permissão, filmou “Escape from tomorrow" dentro dos parques temáticos e hoteis da Flórida e Califórnia. Se isso já não fosse ousadia o bastante, a obra é uma fantasia de horror que critica duramente o estilo de entretenimento de massa da Disney. O longa-metragem tem o cuidado de deixar fora certos materiais protegidos por lei, como a canção “It’s a small world”, mas testa os limites do uso justo no direito autoral. Traz muitos ícones da empresa: o diretor e roteirista estreante filmou dentro de brinquedos e uma longa sequência envolve a fila para uma atração com Buzz Lightyear. Como ele conseguiu? Afinal de contas, seu elenco e equipe entraram no brinquedo “It’s a small world” pelo menos 12 vezes, filmando com câmeras de alta qualidade (apesar de pequenas). “Fiquei surpreso que os operadores dos brinquedos não fossem um pouco mais malandros”, disse. ''Escape from tomorrow" ressalta as dificuldades enfrentadas pela Disney, intensamente vigilante sobre a sua propriedade intelectual, à medida que tenta controlar a imagem que flui de seus parques enquanto as pessoas filmam quantidades crescentes de vídeos com seus smartphones. A Disney tem desenvolvido uma abordagem cada vez mais paciente, permitindo que vídeos feitos dentro dos passeios sejam publicados no YouTube, por exemplo — mas esses costumam relatar experiências positivas. Um porta-voz da empresa não quis comentar o assunto. A Disney sabe que está numa posição delicada. Uma reação firme poderia favorecer Moore, gerando publicidade gratuita e ajudando o filme a alcançar uma audiência maior. “Como vocês vão lançar isso?” Perguntou um repórter na pré-estreia a John Sloss, advogado e agente de longa data que está procurando um distribuidor para o filme. “A Disney é uma das empresas mais litigiosas do planeta”. “Eles que venham”, respondeu Sloss em tom de brincadeira. ''Escape from tomorrow" é sobre uma família de quatro pessoas que decide passar um dia de diversão na Disney World. Eles passeiam em xícaras e posam para fotos no castelo da Cinderela, mas o pai (Roy Abramsohn) começa a perder a cabeça após receber uma ligação do chefe. Ele baba por garotas menores de idade, imagina que os personagens são maus e estão ganhando vida e tenta se matar com um rifle de brinquedo. Há uma cena grotesca de vômito, uma sujeito obeso numa scooter e uma sequência no Epcot Center na qual o personagem de Abramsohn é imobilizado com um taser. Logo depois, ele é levado para uma sala secreta e sofre lavagem cerebral. No final, morre de forma sangrenta num hotel local. “Você não pode ser feliz o tempo inteiro”, diz um dos personagens perto do final do filme. “Simplesmente não é possível”. Moore admite que está preocupado com a reação da Disney. Esse tipo de filme pequeno de Sundance costumava ter pouca exposição além do festival, que atrai cerca de 47 mil pessoas. Mas o crescimento dos serviços de vídeo, na internet e em canais por satélite, expandiu a audiência de produções independentes. Com isso, o mundo passou a ter alguma chance de assistir a “Escape From Tomorrow." Resenhas em redes sociais e sites especializados já começaram a aparecer. “Uma tentativa ousada de atacar a Disney por dentro”, avalia o IndieWire.com. Ao apresentar “Escape From Tomorrow" antes da estreia, o diretor de programação do festival, Trevor Groth, classificou o filme como “altamente imaginativo” e Moore como “um visionário”, comparando-o com David Lynch em uma entrevista posterior. '''Escape from tomorrow' encarna com perfeição o que queremos celebrar aqui, que é uma visão realmente singular”, justificou. Moore fez o filme com menos de US$ 1 milhão, graças a uma herança de família. A equipe passou cerca de 10 dias filmando na Walt Disney World, em Orlando, Flórida, e duas semanas na Disneylândia, em Anaheim, Califórnia. Os créditos mencionam mais de 200 pessoas, apesar de apenas grupos pequenos terem entrado nos parques. Ainda assim, em alguns momentos os funcionários claramente perceberam que algo estava acontecendo. “Imagino que eles tenham pensado que éramos fãs malucos fazendo vídeos para o YouTube, o que acontece com razoável frequência”, disse o diretor. “Olha, tenho memórias fantásticas de criança nesses parques. Acho que Walt Disney foi um gênio. Só não queria que a sua visão tivesse se tornado algo tão corporativo”, acrescenta. Fonte - Cultura O Globo

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